As origens dos alimentos
África no prato
Nos tempos de colônia, o cardápio nacional recebeu influências africanas com ingredientes, pratos e técnicas que se fazem presentes até hoje
texto Liliane Prata
Quem diria que a banana, esse símbolo tão tropical e brasileiro, não é originária do Brasil? E que o coco, presente em praias nordestinas com seus vastos coqueirais, também? No entanto, ambas as frutas chegaram até nós vindas da África. É o caso da pimenta malagueta, da abóbora, da melancia, por exemplo. Os arretados acarajé e vatapá denunciam pela presença da pimenta sua origem africana. Quanto à feijoada, defendida por muitos como uma iguaria inventada na senzala pelos escravos a partir dos restos de porco cedidos pelo senhor branco, bem, ela tem origens europeias: na versão mais aceita do etnógrafo Câmara Cascudo em seu célebre História da Alimentação do Brasil, tratase da releitura brasileira de um cozido português.
A influência dos negros na culinária brasileira aparece onde nem imaginávamos e pode desafiar algumas de nossas certezas. Junto com os portugueses e os índios, os escravos ajudaram a fomentar hábitos e pratos que nasceram no Brasil Colônia e permanecem em nossa mesa até hoje.
Quando os primeiros portugueses se mudaram para o Brasil, não encontraram em nossas terras alimentos familiares como o trigo. Havia aqui uma imensa variedade de frutas e tubérculos, mas muitos desses itens, que se transformavam em iguarias nas mãos dos índios, eram estranhos aos olhos e ao paladar dos colonizadores. Trazer tudo da terrinha, nem pensar: o transporte de navio era demorado e não havia como conservar bem os alimentos. O jeito era importar alguns itens, mas principalmente adaptar o paladar aos gêneros encontrados no Brasil.
No engenho, quem colocava de fato a mão na massa na maioria das vezes eram as escravas – e a comida acabava sofrendo interferência africana no modo de preparar. A farofa, por exemplo, foi criação delas. Além disso, havia um intercâmbio de ingredientes. “A globalização começou no século 16”, diz a antropóloga Paula Pinto, autora do livro Feijão, Farinha e Carne Seca. “Com as viagens de descobrimento, as trocas de espécies aconteciam o tempo todo.” Assim, podemos falar que a influência africana na culinária brasileira atuou em duas frentes: no modo de preparar, temperar e combinar os alimentos e nos ingredientes trazidos do continente africano, pelos colonizadores. Nessa segunda categoria, entra a banana. Originária da Ásia, a banana seguiu rumo à África e foi partindo de lá que chegou aqui. Embora também dispuséssemos de uma variedade nativa, de nome pacova, a fruta é tida por Câmara Cascudo como a maior contribuição africana à alimentação no Brasil.
Enquanto o modo de preparo predominante na cozinha portuguesa era o cozimento, os escravos preferiam assar os alimentos, como os índios. Nem sempre índios e africanos tinham o mesmo gosto: os primeiros desprezavam o caldo do feijão, que era comido seco, enquanto escravos e portugueses apreciavam uma comida molhada. Como o sal era caro, os africanos habituaram- se a salgar pouco e a caprichar na pimenta. Verduras eram um acompanhamento comum à mesa deles, uma novidade para os portugueses. Couve, quiabo e taioba, entre outros, eram comuns. “Com a europeização da mesa é que o brasileiro tornou-se um abstêmio de vegetais”, escreve Gilberto Freyre em Casa-Grande & Senzala, entendendo-se por europeização a influência, sobretudo da França, a partir do século 19.
Outro hábito que os colonizadores estranharam: acompanhar as carnes com frutas. Como Câmara Cascudo nota, os escravos comiam lombo com abacaxi e feijão-preto com laranja. Então, é bom lembrar: se a feijoada tem raízes europeias, as rodelas de laranja e a couve refogada são obra da influência escrava na culinária brasileira.
Não eram apenas o conforto e a quantidade de comida que separavam as refeições feitas na casa-grande e na senzala. Enquanto os colonos tinham o hábito de conversar e tomar algo enquanto comiam, escravos preferiam comer calados, sem beber nada, como a maioria dos orientais. Algumas vezes, deixavam a bebida para o fim. A conversa à mesa e o hábito da sobremesa também vieram dos portugueses.
Falando em doces
É claro que, naqueles tempos, açúcar era artigo de luxo. Assim, doces não eram presenças marcantes no cardápio dos escravos, embora eles dessem um jeito de acrescentar algumas guloseimas à dieta – como a rapadura, a garapa e o melado. Os doces portugueses, ricos em ovos, eram reservados para datas especiais. No dia a dia, as senhoras faziam quitutes para serem vendidos nas ruas, pelas escravas. Desse modo, as negras aprenderam a empregar o açúcar na culinária. Nasciam os doces brasileiros: pé-de-moleque, cocada, pamonha, canjica, mingau, compotas, frutas secas. Enquanto isso, doces conhecidos pelos portugueses sofriam algumas modificações locais: é o caso do arroz-doce, feito lá com gemas de ovo e aqui com leite de coco.
Sim, o leite de coco nasceu no Brasil por obra dos escravos, que já conheciam bem o coco. Trata-se de um ingrediente ainda hoje requisitado na nossa cozinha – mesmo quem não é íntimo das panelas deve ter reparado que, além de fazer parte de vários doces, ele rega peixes e incrementa itens que vão de frango a risotos. Ralar o coco também é uma técnica africana, da mesma forma que montar um prato em cima da folha de bananeira ou mexer a boia com colher de pau.
Só há relato do uso de milho nos doces no começo do século 17. Embora o grão já fosse conhecido pelos índios, portugueses e escravos, não era então muito valorizado na alimentação e servia mais como ração dos animais. Isso até as portuguesas o incorporarem às receitas. O milho passou a entrar na composição de bolos e pudins, que saíam das mãos delas; papas, angus e mungunzás eram obra das mãos das negras.
Nossa culinária já foi muito mais simples e natural. Mas mesmo hoje, em meio a tantas opções, continua sendo delicioso abrir mão do pacotinho de chocolate e dar uma bela colherada em um doce de abóbora, ou se lembrar de que o prosaico pedaço de banana que acompanha um prato de comida tem uma história linda por trás.
Alimentos de origem afrincanaINHAME
https://www.ba.senac.br/Servicos/coluna_raul_lody/8294?title=inhame%3A-o-alimento-africano-da-fertilidade
https://revistacasaejardim.globo.com/Casa-e-Comida/Reportagens/Comida/noticia/2016/06/beleza-interior.html
CAFÉ
https://www.graogourmet.com/blog/conheca-origem-do-cafe-e-sua-historia/
https://www.brasitaliacafe.com.br/anexos/880/27711/a-origem-do-cafe-pdf
ARROZ
https://elegbaraguine.wordpress.com/2015/03/24/arroz-origem-africana/
file:///C:/Users/Professores%2002/Downloads/2447-Texto%20do%20Manuscrito-6782-1-10-20170910%20(1).pdf
Podem procurar outros alimentos com influência do africanos ou dos indígenas
https://hisnaescola.blogspot.com/2017/08/os-indigenas-e-suas-contribuicoes-na.html
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